segunda-feira, junho 27, 2005

Drummond

Hoje fui buscar Drummond. Foi Drummond quem me abriu os olhos para a poesia, me lembro bem, na oitava série. Ao lê-lo, tomei gosto de imediato por essa forma de expressão e logo estava comprando livros e livros de poesia. Poetas conhecidos e desconhecidos, hábito que até hoje mantenho.
É sempre bom reler Drummond, pescar sua fina ironia, sua mineirice, seu romantismo às vezes lírico, às vezes meio fora do tom.

Cerâmica

Os cacos da vida, colados, formam uma estranha xícara.
Sem uso,
ela nos espia do aparador.


Memória

Amar o perdido
deixa confundido
este coração.

Nada pode o olvido
contra o sem sentido
apelo do Não.

As coisas tangíveis
tornam-se insensíveis
à palma da mão.

Mas as coisas findas,
muito mais que lindas,
essas ficarão.


Poesia

Gastei uma hora pensando um verso
que a pena não quer escrever.
No entanto ele está cá dentro
inquieto, vivo.
Ele está cá dentro
e não quer sair.
Mas a poesia deste momento
inunda minha vida inteira.


As Sem-Razões do Amor

Eu te amo porque te amo.
Não precisas ser amante,
e nem sempre sabes sê-lo.

Eu te amo porque te amo.
Amor é estado de graça
e com amor não se paga.

Amor é dado de graça,
é semeado no vento,
na cachoeira, no eclipse.
Amor foge a dicionários
e a regulamentos vários.

Eu te amo porque não amo
bastante ou demais a mim.
Porque amor não se troca,
não se conjuga nem se ama.
Porque amor é amor a nada,
feliz e forte em si mesmo.

Amor é primo da morte
e da morte vencedor,
por mais que o matem (e matam)
a cada instante de amor.


Ausência

Por muito tempo achei que a ausência é falta.
E lastimava, ignorante, a falta.
Hoje não a lastimo.
Não há falta na ausência.
A ausência é um estar em mim.
E sinto-a, branca, tão pegada, aconchegada nos meus braços,
que rio e danço e invento exclamações alegres,
porque a ausência, essa ausência assimilada, ninguém a rouba mais de mim.


Há tantos mais...difícil escolher. Fica assim, por enquanto. Depois virão outros.

Nenhum comentário: