sexta-feira, janeiro 21, 2005

Sobre meus pais

Estava aqui pensando sobre o que escrever para meus pais, heróicas pessoas comuns que completam no próximo dia 05 de fevereiro 50 anos de casamento.
É difícil escrever sobre isso. Sobre o que falar? Sobre o amor? Sobre o que me ensinaram? Sobre o exemplo que deram ao realmente dar valor ao "contrato de casamento" que fizeram, como diz Stephen Kanitz em um artigo que escreveu para a Veja?
Aliás, eu poderia usar o Kanitz:
"Quando você promete amar alguém para sempre, está prometendo o seguinte: "Eu sei que nós dois somos jovens e que vamos viver até os 80 anos de idade. Sei que fatalmente encontrarei dezenas de mulheres mais bonitas e mais inteligentes que você ao longo de minha vida e que você encontrará dezenas de homens mais bonitos e mais inteligentes que eu. É justamente por isso que prometo amar você para sempre e abrir mão desde já dessas dezenas de oportunidades conjugais que surgirão em meu futuro. Não quero ficar morrendo de ciúme cada vez que você conversar com um homem sensual nem ficar preocupado com o futuro de nosso relacionamento. Nem você vai querer ficar preocupada cada vez que eu conversar com uma mulher provocante. Prometo amar você para sempre, para que possamos nos casar e viver em harmonia". Homens e mulheres que conheceram alguém "melhor" e acham agora que cometeram enorme erro quando se casaram com o atual cônjuge esqueceram a premissa básica e o espírito do contrato de casamento.
O objetivo do casamento não é escolher o melhor par possível mundo afora, mas construir o melhor relacionamento possível com quem você prometeu amar para sempre. Um dia vocês terão filhos e ao colocá-los na cama dirão a mesma frase: que irão amá-los para sempre. Não conheço pais que pensam em trocar os filhos pelos filhos mais comportados do vizinho. Não conheço filho que aceite, de início, a separação dos pais e, quando estes se separam, não sonhe com a reconciliação da família. Nem conheço filho que queira trocar os pais por outros "melhores". Eles aprendem a conviver com os pais que têm. "

Mas acho que prefiro usar Adélia Prado. Quando leio Adélia, grande poetisa mineira, sempre me vem um quê de familiar. Deve ser porque Minas é mais que um pedaço de chão, é uma filosofia - com a qual alguém como eu, filha de mineiros criada em outro lugar, cresce embalada.
Mais do que isso, acho que Minas vem impressa em nossa alma, nos deixando com um jeito meio caladão, desconfiado, cercados por montanhas que servem como caminhos difíceis, mas não intransponíveis, à nossa real beleza...


De qualquer forma, sou feliz por eles, vendo suas implicâncias diárias, seus hábitos já arraigados, sua forma particular de conviver. Eles são uma dupla. Tenho a impressão de que se eles tivessem nascido um casal de pássaros, quando um se fosse, o outro pararia de cantar.
O amor está ali, nas pequenas coisas, o tempo todo, visível para os olhos mais atentos.

Acho que, afinal, só há uma coisa a dizer: meu pai, minha mãe, obrigada por me fazer acreditar no amor.

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