quinta-feira, setembro 22, 2005

Aos 16

Me lembro que foi aos 16 anos que escrevi essa poesia. Até hoje não possuo o bom hábito de anotar as datas, mas essa sei pelo menos em que ano foi... E também me lembro que sentei à máquina de escrever (Deus, nessa época nem computador havia!) e digitei de uma tacada só os versos que me saíam da cabeça.
Talvez tenha sido a única vez em que isso aconteceu até hoje. E eu nunca revisei ou tentei mudar alguma coisa nela. Na verdade, nem gosto dela tanto assim, mas a guardo pelo inusitado da coisa.
Não quero perdê-la nem esquecê-la, e é só por isso que ela está aqui hoje.


Paixão. Paixão e falta de clareza.
O eu. O eu misterioso e inculto,
O lado oculto da lua que brilha, suprema,
Sobre a luz do sol.
A vida. Pobre, insípida vida.
Caco de xícara estraçalhado no cimento,
Inútil, fútil vida desvalorizada.
Os soldados marcham na Terra lama,
Areia movediça de seus pensamentos.
Eles escondem suas faces, com vergonha
De sua imbecil função. Disfunção.
Apaixão – meu navio – naufraga
Nas águas do meu sofrer.
Viver! Como? No meio da lava
De vulcões precocemente extintos?
O amor se arrasta. Morre de sede,
Não há mais condições de sobrevivência.
Só há um sopro de oxigênio,
E todos morrem por ele.
Disputa inútil, mas importante:
Ao menos é algo para fazer.
Não à ilusão:
Mesmo a lua, num eclipse apoteótico,
Sucumbe ao vasto calor dos sóis,
Que se multiplicam aos milhões.
Paixão. Paixão e falta de clareza.
Foram as minhas últimas palavras.

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