terça-feira, setembro 28, 2004

Há muito tempo atrás

Perdi meu amor numa esquina da vida e receio não encontrá-lo mais.
Eu não saberia achar e, mais que isso, não saberia nem procurar.
Talvez não o reconheça. Talvez não saiba mais - a ele, amor - amar.
Perdi meu amor numa esquina da vida, há muito tempo atrás.
Pobre amor! Triste e sozinho, provavelmente sentiu-se inútil, incapaz.
(quem sabe até mesmo tenha tentado voltar)
Sim, perdi meu amor: eu o deixei por aí, esquecido em algum lugar.

O que é feito de um amor que não tem por quem chorar?
Pobre amor, sem objeto a amar!
Mas nem foi porque eu quis, foi o que aconteceu.
Perdi meu amor numa esquina da vida - e agora ele, infeliz, não sabe o que fazer.
Aliás, nem eu.

segunda-feira, setembro 27, 2004

A pedidos...

Pedaços de Fernando Pessoa (e seus heterônimos):

Para Ser Grande

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


"Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído."


" Se depois de eu morrer quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus."


"Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!."


"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos.
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha pra mim como um girassol com a cara dela no meio."


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."


E, por fim,

"Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena."

domingo, setembro 26, 2004

Everyday is a winding road / I get a little bit closer

Pluralidade. Diferenças. Nossa, o quanto isso é bom!
Minha vida mudou pra melhor depois que resolvi me abrir para conhecer coisas novas, diferentes, inusitadas, ou que nada tem a ver comigo.
Nem que seja para confirmar o quanto aquele pedaço de mundo, aqueles hábitos e aquelas preferências nada tem a ver com as minhas, é bom.
Até porque nossas escolhas ficam mais firmes, são feitas com mais base... e inevitavelmente o mundo se amplia, os horizontes ficam mais largos, as coisas mudam um pouco de figura.
Aprende-se mais, julga-se menos, critica-se menos. E eu não quero mais julgar, criticar, ter preconceitos. Não quero mais uma vida fechada em hábitos e padrões que não podem ser alterados sob a ameaça de escândalo das pessoas que me conhecem há muito tempo.
Eu quero mudar! Eu quero evoluir, quero crescer. E descobri que o melhor caminho é ter uma cabeça aberta, é tentar conhecer as razões das pessoas, é conhecer e amar as diferenças, é descobrir o que há de tão diferente nesse mundão de meu Deus.
Há coisas na vida que sei que nunca vou experimentar, porque realmente não me interessam. Há coisas que nunca vou tentar, outras das quais jamais ouvirei falar, outras que talvez até me agridam e das quais eu prefira manter distância...
Mas há tantas coisas boas escondidas por aí nos cantos da cidade e do mundo... há tantos lugares e tantas vidas diferentes das nossas... vidas que, se bobear, nunca se cruzam.
Desde que resolvi aprender algo novo todos os dias da minha vida, enriqueci em uma proporção inversa à minha conta bancária. Que lógica isso tem? Nenhuma, é a verdade.
Mas talvez nunca tenha me sentido tão rica. Tão inteira, tão intensa, tão inquieta e tão feliz.
Minha única real preocupação atualmente é perder a minha liberdade e a minha independência – coisas que, infelizmente, o dinheiro compra. Pra compensar, invisto na “liberdade pra dentro da cabeça”, que se torna mais independente a cada dia.

Schopenhauer disse: “Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo.”

Verdade? Exagero? Acho que depende da interpretação. Nossa mente pode ampliar indefinidamente nosso campo de visão, basta deixar acontecer.

quarta-feira, setembro 22, 2004

Porque gosto de Adélia Prado

Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
'Coitado, até essa hora no serviço pesado'.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


Amor feinho

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.


A meio pau

Queria mais um amor. Escrevi cartas,
remeti pelo correio a copa de uma árvore,
pardais comendo no pé um mamão maduro
- coisas que não dou a qualquer pessoa -
e mais que tudo, taquicardias,
um jeito de pensar com a boca fechada,
os olhos tramando um gosto.
Em vão.
Meu bem não leu, não escreveu,
não disse essa boca é minha.
Outro dia perguntei a meu coração:
o que que há durão, mal de chagas te comeu?
Não, ele disse: é desprezo de amor.


segunda-feira, setembro 20, 2004

Compartilhar

Compartilhar... como isso nos ensina e nos faz crescer!
Cada um de nós tem sua colcha de retalhos, uma coleção de pedaços que vamos recolhendo pela vida afora, remendando, um de um lado, outro do outro, em cima, embaixo. São instantes, sensações, experiências, dias, pensamentos, emoções, dores, estórias, alegrias, momentos.
A troca desses retalhos é também uma experiência fascinante, que faz sair das costuras uma colcha única e especial, com personalidade própria.

Há dias assim, em que a vida flui como se nada mais houvesse... e no entanto a gente sabe que está construindo, começando, recomeçando - estamos mais vivos do que imaginamos.



Ao redor da mesa
Falamos do que somos
Do que não somos
Do que não queremos ser.
Ser feliz é o que importa
Mas o que não importa
Também nos ensina a viver.





sexta-feira, setembro 17, 2004

Dia cinza...

Mas ouço Nara Leão cantando bossa nova, falando de amor em letras lindas.
Todo dia é um novo dia. Como diz um imã que tenho: yesterday was history / tomorrow is mistery/ today is a gift.


quinta-feira, setembro 16, 2004

A vida

Hoje recebi a seguinte frase: "Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a Vida e muda todas as perguntas".
Não sei de quem é. E também não a interpreto em um sentido literal, pois nunca pensei saber todas as respostas. Mas hoje, justamente hoje, essa frase veio me dizer que não adianta tentar entender o que acontece nas nossas vidas. Não adianta achar que as coisas tem um motivo. Não adianta tentar encontrar explicações ou justificativas.
São poucos os dias em que ouso questionar os desígnios de Deus. Não sou carola e nem possuo religião, mas acredito em alguém superior que toma conta de nós da melhor maneira possível, alguém que é tão superior que não ouso tentar entender. Acredito que ele tenha lá seus motivos para fazer as coisas, até porque sua visão alcança onde a nossa nem poderia supor tentar alcançar. E ele não é o super-homem.
Mas eu também não sou uma super-mulher. E, hoje, meu Deus, você terá que me perdoar, porque estou com raiva de você.


terça-feira, setembro 14, 2004

Frases...

"Amar é mudar a alma de casa" - Mario Quintana
"Amar será dar de presente ao outro a própria solidão? É a coisa mais última que se pode dar de si" - Clarice Lispector
"O amor é uma bolha de sabão. A película oca, que reflete todo o exterior em sua superfície, vai flutuando cega até se espatifar na vidraça" - Lygia Fagundes Telles

E uma poesia de Cecília Meireles:

DESPEDIDA

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo-te aqui meu corpo, entre o céu e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.

quarta-feira, setembro 08, 2004

De amor

Um nada
Loucura desvairada
Entre nós
Todo espaço é pouco
Que fiquemos assim
Longe, muito longe
Um do outro
Que nosso amor fique solto
Para sempre
Adeus.

segunda-feira, setembro 06, 2004

É tarde mas eu canto

Sempre vale a pena dizer obrigada aos amigos. Amigos renovam o ar que a gente respira, mostram caminhos, dão esperança, preenchem o dia com alegria, falam a coisa certa e falam, às vezes, o que não queremos ouvir.
É assunto para mais linhas, mais amor e mais cuidado. Por enquanto só quero deixar registrado o quanto sou grata pela amizade de quem me quer bem.
Aos meus amigos, um brinde.

sábado, setembro 04, 2004

Esperança

Onde está a esperança? É o que me pergunto hoje. Triste começar o dia com uma barbárie estampando o jornal, com imagens violentas de pessoas que matam para protestar contra pessoas que matam... Muita loucura para a minha cabeça. Tenho andado mergulhada nos anos 80, e talvez por isso tenha lembrado da Carta aos Missionários: "Missionários de um mundo pagão/ Proliferando ódio e destruição / Vem dos quatro cantos da terra / A morte, a discórdia, a ganância e a guerra". E essa música é dos anos 80! Já passamos por tanta coisa, mas parece que a tristeza não para. E os americanos ainda vão acabar reelegendo o fabricante de terror... não dá.
Quero pensar pra cima, mas só pra piorar o dia hoje está cinza...
Pra nos salvar da guerra, só mesmo o amor. Será que está na hora de voltar ainda mais no tempo, para os anos 70? Make love, not war!!!

Só para deixar um pouco de poesia:

Se as coisas são inatingíveis
Não é motivo para não querê-las
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mário Quintana



sexta-feira, setembro 03, 2004

Um começo

Um blog. Um desejo antigo, uma dúvida... escrever sobre o quê? Ou seria escrever por que? Escrevo porque é preciso; escrever para não enlouquecer, para (re)lembrar o prazer de escrever. Dividir pensamentos, sentimentos, frases bonitas, dúvidas cruciais, literatura de qualidade.
Escrever sobre mim? Pode ser que sim, pode ser que não... estou só começando.
Deixo Leminski dar o pontapé inicial:

PROFISSÃO DE FEBRE

quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento.