quarta-feira, dezembro 22, 2004

Para refletir

Feliz Ano Novo
Martha Medeiros


Foi-se embora mais um ano, 12 meses, mais de 300 dias em que pagamos contas e procuramos lugar para estacionar. Um ano a mais de experiências vividas, um ano a menos de juventude. Um ano a mais de filmes de que gostamos, trabalhos que nos frustraram e pessoas com quem convivemos menos do que gostaríamos. Tempo consumido em chopes, estradas, telefonemas, suor, tevê e cama. Você envelheceu ou cresceu este ano?

Envelhecemos sentados no sofá, envelhecemos ao viciar-nos na rotina, envelhecemos criando os filhos da mesma forma como fomos criados, sem levar em conta algumas novas necessidades, outras formas de ser feliz. Envelhecemos passando creme anti-rugas no rosto antes de dormir, envelhecemos malhando numa academia, envelhecemos nos queixando da tarifa do condomínio e achando que todo mundo é estúpido, menos nós. Envelhecemos porque envelhecer é mais fácil que crescer.

Crescer requer esforço mental. Obriga a tomadas de consciência. Exige mudanças. Crescer é a anti-repetição de idéias, é a predisposição para o deslumbramento, é assumir as responsabilidades por todos os nossos atos, os bem pensados e os insanos. Crescer dá uma fisgada diária no peito, embrulha o estômago, tem efeitos colaterais. Machuca.

Envelhecer não machuca. Envelhecer é manso, sereno. Envelhecer é uma apatia, um não-desempenho, um deixa pra lá, vamos ver o que acontece. O que acontece é que você fica mais velho e se considerando tão sábio quanto era anos atrás, anos que passaram iguais, sabedoria que não se renovou.

Crescer custa, demora, esfola, mas compensa. É uma vitória secreta, sem testemunhas. O adversário somos nós mesmos, e o prêmio é o tempo a nosso favor. Feliz Ano Novo.


sábado, dezembro 11, 2004

Porque amo Paulo Leminski

"você está tão longe
que às vezes penso
que nem existo

nem fale em amor
que amor é isto"


"ai daqueles
que se amaram sem nenhuma briga
aqueles que deixaram
que a mágoa nova
virasse a chaga antiga

ai daqueles que se amaram
sem saber que amar é pão feito em casa
e a pedra só não voa
porque não quer
não porque não tem asa"


"Esta vida de eremita
é, às vezes, bem vazia.
Às vezes, tem visita.
Às vezes, apenas esfria."


"podem ficar com a realidade
esse baixo astral
em que tudo entra pelo cano.

eu quero viver de verdade
eu fico com o cinema americano"


"Faça os gestos certos,
o destino vai ser teu aliado,
ouço uma voz dizendo
do fundo mais fundo do passado.
Hoje, não faço nada direito,
que é preciso muito mais peito
pra fazer tudo de qualquer jeito.

Ai do acaso,
se não ficar do meu lado."


ARTE DO CHÁ

ainda ontem
convidei um amigo
pra ficar em silêncio
comigo

ele veio
meio a esmo
praticamente não disse nada
e ficou por isso mesmo


"quem me dera
até para a flor no vaso
um dia chega a primavera"


"esta vida é uma viagem
pena eu estar
só de passagem"


"a noite - enorme
tudo dorme
menos teu nome"


"tão doce, tão cedo,
tão já
tudo de novo vira começo"


"abrindo um antigo caderno
foi que eu descobri
antigamente eu era eterno"


"pelos caminhos que ando
um dia vai ser
só não sei quando"

segunda-feira, dezembro 06, 2004

O Teatro dos Vampiros

Sempre precisei de um pouco de atenção
Acho que não sei quem sou
Só sei do que não gosto
E desses dias tão estranhos
Fica a poeira se escondendo pelos cantos.

Este é o nosso mundo
O que é demais nunca é o bastante
E a primeira vez é sempre a última chance.
Ninguém vê onde chegamos:
Os assassinos estão livres, nós não estamos

Vamos sair - mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas.

Vamos lá tudo bem - eu só quero me divertir
esquecer, dessa noite ter um lugar legal prá ir
Já entregamos o alvo e artilharia
Comparamos nossas vidas
E esperamos que um dia
Nossas vidas possam se encontrar.

Quando me vi tendo de viver comigo apenas
E com o mundo
Você me veio como um sonho bom
E me assustei

Não sou perfeito
Eu não esqueço
A riqueza que nós temos
Ninguém consegue perceber
E de pensar nisso tudo, eu, homem feito
Tive medo e não consegui dormir

Vamos sair - mas não temos mais dinheiro
Os meus amigos todos estão procurando emprego
Voltamos a viver como há dez anos atrás
E a cada hora que passa
Envelhecemos dez semanas.

Vamos lá tudo bem - eu só quero me divertir
esquecer, dessa noite ter um lugar legal prá ir
Já entregamos o alvo e artilharia
Comparamos nossas vidas
E mesmo assim, não tenho pena de ninguém.

nada mais a dizer ;)

P.S. "Teatro dos Vampiros" é uma letra de música da Legião Urbana.

quarta-feira, dezembro 01, 2004

Lição

De tudo que me acontece
A cada novo dia,
Fica um gosto
(às vezes irreconhecível)
De sabedoria.

segunda-feira, novembro 22, 2004

Bastante apropriado

Li isso no Orkut e achei muito bom...para lembrar sempre. Infelizmente não sei se é texto de alguém ou original da pessoa que postou.

Para mim os homens caminham pela face da Terra em fila indiana.
Cada um carregando uma sacola na frente e outra atrás.
Na sacola da frente, nós colocamos as nossas qualidades.
Na sacola de trás, guardamos os nossos defeitos.
Por isso, durante a jornada pela vida, mantemos os olhos fixos nas virtudes que possuímos, presas em nosso peito.
Ao mesmo tempo, reparamos impiedosamente nas costas do companheiro que está adiante, em todos os defeitos que ele possui.
E nos julgamos melhores que ele, sem perceber que a pessoa andando atrás de nós está pensando a mesma coisa a nosso respeito.

Mude, ainda dá tempo, e não esqueça...

quinta-feira, novembro 18, 2004

Não importa no que você acredita...

Anteontem recebi uma mensagem com este texto:

As coisas acontecem exatamente quando devem acontecer.

Leia a primeira linha com atenção!
Se Deus trouxe isso a você, Ele lhe trará algo através disto!
Momentos felizes, louve a Deus.
Momentos difíceis, busque a Deus.
Momentos silenciosos, adore a Deus.
Momentos dolorosos, confie em Deus.
Cada momento, agradeça a Deus.

O texto me disse algo, porque acredito em Deus. Mas acho que mesmo para quem não acredita em nada a não ser em si próprio e na própria vontade e existência, ele diz algo. Diz que é preciso acreditar que as coisas acontecem por algum motivo. Mesmo que esse motivo seja a nossa vontade, a nossa fé, ou o nosso esforço. Basta confiar e direcionar o pensamento pra isso.

Eu acho que isso é verdade. Creio que a persistência e a atitude em relação às coisas são determinantes na vida de muitas pessoas.
Talvez isso seja a coisa que mais tento mudar em mim, ou que tento fazer evoluir: minha atitude em relação às coisas. Não é nada fácil. Mas pelo menos tenho a persistência para não desistir.


sábado, novembro 06, 2004

Verde é a cor da esperança

Persistência

Quando nada parece ajudar, olho o cortador de pedras martelando a rocha talvez cem vezes sem que uma só rachadura apareça. Porém, na centésima primeira, a pedra se abre em duas e sei que não foi aquela martelada que conseguiu, mas todas as que vieram antes.

Jacob A. Riis

segunda-feira, outubro 25, 2004

Há tempos não escrevo...

E o mais absurdo é que a intenção do blog era mais ou menos me obrigar a escrever... no entanto, nem sei bem o porquê, não tenho tido a paciência necessária para isso.
Mas a cabeça continua pensando em mil coisas ao mesmo tempo! Talvez seja esse o problema, dispersão.
De qualquer forma, creio que uma cabeça ativa - mesmo que turbulenta - será sempre melhor que uma adormecida, inerte, fugitiva. E ativa é meio caminho andado para produtiva. Sim, nessas horas preciso ser otimista.


DESEJO QUE DESEJES
Martha Medeiros


Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido, desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa, desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.
Mas desejo também que desejes com audácia, que desejes uns sonhos descabidos e que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração, mas os mantenha acesos, livres de frustração, desejes com fantasia e atrevimento, estando alerta para as casualidades e os milagres, para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.
Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras, que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe e desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer e que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro, eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.
Mas desejo também que desejes uma alegria incontida, que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos, basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar, que desejes o bar tanto quanto a igreja, mas que o desejo pelo encontro seja sincero, que desejes escutar as histórias dos outros, que desejes acreditar nelas e desacreditar também, faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas, que desejes não ter tantos desejos concretos, que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas.
Desejo que desejes alguma mudança, uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma, mudanças são temidas, mas não há outro combustível para essa travessia. Desejo que desejes um ano inteiro de muitos meses bem fechados, que nada fique por fazer, e desejo, principalmente, que desejes desejar, que te permitas desejar, pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente, não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances, diagnósticos favoráveis, mais dinheiro e sentimentos vários, mas desejo, antes de tudo, que desejes, simplesmente.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Só o que está morto não muda

É um texto que circula há tempos pela internet, mal atribuído à Clarice Lispector (de quem é apenas a frase final, usada pelo autor no poema). Sempre me serve de inspiração...


Mude
Edson Marques

Mas comece devagar,
porque a direção é mais
importante que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.

Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas, calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.

Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método,
o novo sabor, o novo jeito,
o novo prazer, o novo amor.
A nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida,
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira, de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros, outros teatros,
visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar
razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer
uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!!

quarta-feira, outubro 13, 2004

Maitena

Adoro Maitena, a cartunista argentina. Seria cartunista a melhor definição? Nem sei. Ela faz tiras para jornais e revistas (aqui, pelo que sei, pode ser lida na revista Claudia), que foram reunidas na maravilhosa série "Mulheres Alteradas". Para quem é mulher de 30 e poucos (como eu) ou de 40 e poucos (como ela), é imperdível. Para os homens também, eu acho. Os de bom humor, é claro...
O bom humor e a inteligência com que retrata nosso dia-a-dia (das casadas, descasadas, solteiras, com filhos ou sem) vão direto ao ponto. Me atingem e me fazem rir, sempre.
Tenho também um livro que reúne outra série, chamada "Superadas", publicada diariamente no La Nación.
Estava relendo (é sempre uma delícia!) e me deparei com esta pérola, dúvida do tipo "perguntas que não querem calar" que todas as mulheres se fazem (com tradução livre do espanhol):

Homem: "Não consigo entender como as mulheres tem, por exemplo, medo de baratas, aranhas e ratos e, no entanto, conseguem colocar cera quente sobre a pele..."
Mulher: "Bom, se é assim, eu não entendo como alguns homens podem tomar decisões que envolvem milhões de dólares, afetam milhares de pessoas e países inteiros... e, por outro lado, não conseguem deixar sua mulher!"

E depois ainda dizem que homens e mulheres não pensam diferente! Ah, pensam, se pensam...

quarta-feira, outubro 06, 2004

Hoje quis lembrar dessa frase

“Life is no straight and easy corridor along which we travel free and unhampered, but a maze of passages, through which we must seek our way, lost and confused, now and again checked in a blind alley.

But always, if we have faith, God will open a door for us, not perhaps one that ourselves would ever have thought of, but one that will ultimately prove good for us.”

A. J. Cronin


Coloco as coisas aqui, às vezes, e penso se devo ou não comentar... acho que frases falam por si mesmas, e a interpretação deve variar de pessoa pra pessoa, de acordo com o momento e com a forma em que são atingidas por elas.
Essa frase veio pra mim em um momento particularmente difícil da minha vida, e eu me pus a olhar pra ela todos os dias, de forma a fortalecer a minha fé. Hoje, este momento ultrapassado, ela não me parece mais uma mensagem de esperança e fé, mas apenas - como se isso pudesse ser apenas! - um descritivo do que é mesmo a vida, cheia de momentos que devemos viver e de oportunidades que não enxergamos; e de como somos (de uma certa forma) despreparados para ela, embora muitos de nós se empenhem em preparar-se e defender-se do que é indefensável. Para mim, essa é a essência de tudo - mesmo perdidos e confusos, o que importa é viver.

segunda-feira, outubro 04, 2004

Thunder only happens when it's raining

Longe de tudo, longe de você

Ele desceu do ônibus pensando nas compras do supermercado.
Ela vinha pela calçada olhando para o chão e pensando na vida.
O esbarrão inevitável aconteceu porque assim tinha que ser.

- Me desculpe! – disse ele, ajudando-a a se reequilibrar.
- Tudo bem... – disse ela, pensando “Mas que homem distraído!”

Ele pensou: “Ela é bonita!”, mas ao vê-la novamente de pé seguiu seu caminho, refazendo mentalmente a lista do supermercado.
Ela ficou parada por uns dois segundos, ajeitando a roupa. Depois voltou a andar, pensando: “Onde eu estava mesmo? Ah, é. Será que algum dia vou esbarrar no meu príncipe encantado?”

sábado, outubro 02, 2004

Hoje achei essa poesia:

Castelo de Cartas
Pedro Tostes

comecei a construir o meu
castelo de cartas
errei
e ele caiu

pus carta sobre carta novamente
veio o vento
e o derrubou

respirei fundo e comecei de novo
alguém apareceu
e o destruiu

e fiz tudo mais uma vez...

foi então que me perguntaram:
por que insiste?
não percebe que é só um
castelo de cartas
e que irá cair novamente?

eu respondi:
eu não sei...
mas algo me diz que a
beleza
está em
construir


Se eu tivesse que escrever sobre isso, não faria melhor... é esse exatamente o meu sentimento a respeito!
Não é sobre não cair, é sobre aprender a levantar. É sobre querer levantar de novo.
É sobre ter paciência, persistência e fé. Porque não importa quantas vezes o castelo vai cair: eu sei que posso levantá-lo novamente.

terça-feira, setembro 28, 2004

Há muito tempo atrás

Perdi meu amor numa esquina da vida e receio não encontrá-lo mais.
Eu não saberia achar e, mais que isso, não saberia nem procurar.
Talvez não o reconheça. Talvez não saiba mais - a ele, amor - amar.
Perdi meu amor numa esquina da vida, há muito tempo atrás.
Pobre amor! Triste e sozinho, provavelmente sentiu-se inútil, incapaz.
(quem sabe até mesmo tenha tentado voltar)
Sim, perdi meu amor: eu o deixei por aí, esquecido em algum lugar.

O que é feito de um amor que não tem por quem chorar?
Pobre amor, sem objeto a amar!
Mas nem foi porque eu quis, foi o que aconteceu.
Perdi meu amor numa esquina da vida - e agora ele, infeliz, não sabe o que fazer.
Aliás, nem eu.

segunda-feira, setembro 27, 2004

A pedidos...

Pedaços de Fernando Pessoa (e seus heterônimos):

Para Ser Grande

Para ser grande, sê inteiro: nada
Teu exagera ou exclui.
Sê todo em cada coisa. Põe quanto és
No mínimo que fazes.
Assim em cada lago a lua toda
Brilha, porque alta vive.


"Uma vez amei, julguei que me amariam,
Mas não fui amado.
Não fui amado pela única grande razão -
Porque não tinha que ser.

Consolei-me voltando ao sol e à chuva,
E sentando-me outra vez à porta de casa.
Os campos, afinal, não são tão verdes para os que são amados
Como para os que o não são.
Sentir é estar distraído."


" Se depois de eu morrer quiserem escrever a minha biografia,
Não há nada mais simples.
Tem só duas datas - a da minha nascença e a da minha morte.
Entre uma e outra cousa todos os dias são meus."


"Se as cousas fossem diferentes, seriam diferentes: eis tudo.
Se as cousas fossem como tu queres, seriam só como tu queres.
Ai de ti e de todos que levam a vida
A querer inventar a máquina de fazer felicidade!."


"O amor é uma companhia.
Já não sei andar só pelos caminhos.
Porque já não posso andar só.
Um pensamento visível faz-me andar mais depressa
E ver menos, e ao mesmo tempo gostar bem de ir vendo tudo.
Mesmo a ausência dela é uma cousa que está comigo.
E eu gosto tanto dela que não sei como a desejar.

Se não a vejo, imagino-a e sou forte como as árvores altas.
Mas se a vejo tremo, não sei o que é feito do que sinto na ausência dela.
Todo eu sou qualquer força que me abandona.
Toda a realidade olha pra mim como um girassol com a cara dela no meio."


"Não sou nada.
Nunca serei nada.
Não posso querer ser nada.
À parte isso, tenho em mim todos os sonhos do mundo."


E, por fim,

"Tudo vale a pena
Se a alma não é pequena."

domingo, setembro 26, 2004

Everyday is a winding road / I get a little bit closer

Pluralidade. Diferenças. Nossa, o quanto isso é bom!
Minha vida mudou pra melhor depois que resolvi me abrir para conhecer coisas novas, diferentes, inusitadas, ou que nada tem a ver comigo.
Nem que seja para confirmar o quanto aquele pedaço de mundo, aqueles hábitos e aquelas preferências nada tem a ver com as minhas, é bom.
Até porque nossas escolhas ficam mais firmes, são feitas com mais base... e inevitavelmente o mundo se amplia, os horizontes ficam mais largos, as coisas mudam um pouco de figura.
Aprende-se mais, julga-se menos, critica-se menos. E eu não quero mais julgar, criticar, ter preconceitos. Não quero mais uma vida fechada em hábitos e padrões que não podem ser alterados sob a ameaça de escândalo das pessoas que me conhecem há muito tempo.
Eu quero mudar! Eu quero evoluir, quero crescer. E descobri que o melhor caminho é ter uma cabeça aberta, é tentar conhecer as razões das pessoas, é conhecer e amar as diferenças, é descobrir o que há de tão diferente nesse mundão de meu Deus.
Há coisas na vida que sei que nunca vou experimentar, porque realmente não me interessam. Há coisas que nunca vou tentar, outras das quais jamais ouvirei falar, outras que talvez até me agridam e das quais eu prefira manter distância...
Mas há tantas coisas boas escondidas por aí nos cantos da cidade e do mundo... há tantos lugares e tantas vidas diferentes das nossas... vidas que, se bobear, nunca se cruzam.
Desde que resolvi aprender algo novo todos os dias da minha vida, enriqueci em uma proporção inversa à minha conta bancária. Que lógica isso tem? Nenhuma, é a verdade.
Mas talvez nunca tenha me sentido tão rica. Tão inteira, tão intensa, tão inquieta e tão feliz.
Minha única real preocupação atualmente é perder a minha liberdade e a minha independência – coisas que, infelizmente, o dinheiro compra. Pra compensar, invisto na “liberdade pra dentro da cabeça”, que se torna mais independente a cada dia.

Schopenhauer disse: “Todo homem toma os limites de seu próprio campo de visão como os limites do mundo.”

Verdade? Exagero? Acho que depende da interpretação. Nossa mente pode ampliar indefinidamente nosso campo de visão, basta deixar acontecer.

quarta-feira, setembro 22, 2004

Porque gosto de Adélia Prado

Ensinamento

Minha mãe achava estudo
a coisa mais fina do mundo.
Não é.
A coisa mais fina do mundo é o sentimento.
Aquele dia de noite, o pai fazendo serão,
ela falou comigo:
'Coitado, até essa hora no serviço pesado'.
Arrumou pão e café, deixou tacho no fogo com água quente.
Não me falou em amor.
Essa palavra de luxo.


Amor feinho

Eu quero amor feinho.
Amor feinho não olha um pro outro.
Uma vez encontrado é igual fé,
não teologa mais.
Duro de forte o amor feinho é magro, doido por sexo
e filhos tem os quantos haja.
Tudo que não fala, faz.
Planta beijo de três cores ao redor da casa
e saudade roxa e branca,
da comum e da dobrada.
Amor feinho é bom porque não fica velho.
Cuida do essencial; o que brilha nos olhos é o que é:
eu sou homem você é mulher.
Amor feinho não tem ilusão,
o que ele tem é esperança:
eu quero amor feinho.


A meio pau

Queria mais um amor. Escrevi cartas,
remeti pelo correio a copa de uma árvore,
pardais comendo no pé um mamão maduro
- coisas que não dou a qualquer pessoa -
e mais que tudo, taquicardias,
um jeito de pensar com a boca fechada,
os olhos tramando um gosto.
Em vão.
Meu bem não leu, não escreveu,
não disse essa boca é minha.
Outro dia perguntei a meu coração:
o que que há durão, mal de chagas te comeu?
Não, ele disse: é desprezo de amor.


segunda-feira, setembro 20, 2004

Compartilhar

Compartilhar... como isso nos ensina e nos faz crescer!
Cada um de nós tem sua colcha de retalhos, uma coleção de pedaços que vamos recolhendo pela vida afora, remendando, um de um lado, outro do outro, em cima, embaixo. São instantes, sensações, experiências, dias, pensamentos, emoções, dores, estórias, alegrias, momentos.
A troca desses retalhos é também uma experiência fascinante, que faz sair das costuras uma colcha única e especial, com personalidade própria.

Há dias assim, em que a vida flui como se nada mais houvesse... e no entanto a gente sabe que está construindo, começando, recomeçando - estamos mais vivos do que imaginamos.



Ao redor da mesa
Falamos do que somos
Do que não somos
Do que não queremos ser.
Ser feliz é o que importa
Mas o que não importa
Também nos ensina a viver.





sexta-feira, setembro 17, 2004

Dia cinza...

Mas ouço Nara Leão cantando bossa nova, falando de amor em letras lindas.
Todo dia é um novo dia. Como diz um imã que tenho: yesterday was history / tomorrow is mistery/ today is a gift.


quinta-feira, setembro 16, 2004

A vida

Hoje recebi a seguinte frase: "Quando a gente pensa que sabe todas as respostas, vem a Vida e muda todas as perguntas".
Não sei de quem é. E também não a interpreto em um sentido literal, pois nunca pensei saber todas as respostas. Mas hoje, justamente hoje, essa frase veio me dizer que não adianta tentar entender o que acontece nas nossas vidas. Não adianta achar que as coisas tem um motivo. Não adianta tentar encontrar explicações ou justificativas.
São poucos os dias em que ouso questionar os desígnios de Deus. Não sou carola e nem possuo religião, mas acredito em alguém superior que toma conta de nós da melhor maneira possível, alguém que é tão superior que não ouso tentar entender. Acredito que ele tenha lá seus motivos para fazer as coisas, até porque sua visão alcança onde a nossa nem poderia supor tentar alcançar. E ele não é o super-homem.
Mas eu também não sou uma super-mulher. E, hoje, meu Deus, você terá que me perdoar, porque estou com raiva de você.


terça-feira, setembro 14, 2004

Frases...

"Amar é mudar a alma de casa" - Mario Quintana
"Amar será dar de presente ao outro a própria solidão? É a coisa mais última que se pode dar de si" - Clarice Lispector
"O amor é uma bolha de sabão. A película oca, que reflete todo o exterior em sua superfície, vai flutuando cega até se espatifar na vidraça" - Lygia Fagundes Telles

E uma poesia de Cecília Meireles:

DESPEDIDA

Por mim, e por vós, e por mais aquilo
que está onde as outras coisas nunca estão,
deixo o mar bravo e o céu tranquilo:
quero solidão.

Meu caminho é sem marcos nem paisagens.
E como o conheces? - me perguntarão.
- Por não ter palavras, por não ter imagens.
Nenhum inimigo e nenhum irmão.

Que procuras? - Tudo. Que desejas? - Nada.
Viajo sozinha com o meu coração.
Não ando perdida, mas desencontrada.
Levo o meu rumo na minha mão.

A memória voou da minha fronte.
Voou meu amor, minha imaginação...
Talvez eu morra antes do horizonte.
Memória, amor e o resto onde estarão?

Deixo-te aqui meu corpo, entre o céu e a terra.
(Beijo-te, corpo meu, todo desilusão!
Estandarte triste de uma estranha guerra...)

Quero solidão.

quarta-feira, setembro 08, 2004

De amor

Um nada
Loucura desvairada
Entre nós
Todo espaço é pouco
Que fiquemos assim
Longe, muito longe
Um do outro
Que nosso amor fique solto
Para sempre
Adeus.

segunda-feira, setembro 06, 2004

É tarde mas eu canto

Sempre vale a pena dizer obrigada aos amigos. Amigos renovam o ar que a gente respira, mostram caminhos, dão esperança, preenchem o dia com alegria, falam a coisa certa e falam, às vezes, o que não queremos ouvir.
É assunto para mais linhas, mais amor e mais cuidado. Por enquanto só quero deixar registrado o quanto sou grata pela amizade de quem me quer bem.
Aos meus amigos, um brinde.

sábado, setembro 04, 2004

Esperança

Onde está a esperança? É o que me pergunto hoje. Triste começar o dia com uma barbárie estampando o jornal, com imagens violentas de pessoas que matam para protestar contra pessoas que matam... Muita loucura para a minha cabeça. Tenho andado mergulhada nos anos 80, e talvez por isso tenha lembrado da Carta aos Missionários: "Missionários de um mundo pagão/ Proliferando ódio e destruição / Vem dos quatro cantos da terra / A morte, a discórdia, a ganância e a guerra". E essa música é dos anos 80! Já passamos por tanta coisa, mas parece que a tristeza não para. E os americanos ainda vão acabar reelegendo o fabricante de terror... não dá.
Quero pensar pra cima, mas só pra piorar o dia hoje está cinza...
Pra nos salvar da guerra, só mesmo o amor. Será que está na hora de voltar ainda mais no tempo, para os anos 70? Make love, not war!!!

Só para deixar um pouco de poesia:

Se as coisas são inatingíveis
Não é motivo para não querê-las
Que tristes os caminhos se não fora
A mágica presença das estrelas!

Mário Quintana



sexta-feira, setembro 03, 2004

Um começo

Um blog. Um desejo antigo, uma dúvida... escrever sobre o quê? Ou seria escrever por que? Escrevo porque é preciso; escrever para não enlouquecer, para (re)lembrar o prazer de escrever. Dividir pensamentos, sentimentos, frases bonitas, dúvidas cruciais, literatura de qualidade.
Escrever sobre mim? Pode ser que sim, pode ser que não... estou só começando.
Deixo Leminski dar o pontapé inicial:

PROFISSÃO DE FEBRE

quando chove,
eu chovo,
faz sol,
eu faço,
de noite,
anoiteço,
tem deus,
eu rezo,
não tem,
esqueço,
chove de novo,
de novo chovo,
assobio no vento,
daqui me vejo,
lá vou eu,
gesto no movimento.