segunda-feira, outubro 25, 2004

Há tempos não escrevo...

E o mais absurdo é que a intenção do blog era mais ou menos me obrigar a escrever... no entanto, nem sei bem o porquê, não tenho tido a paciência necessária para isso.
Mas a cabeça continua pensando em mil coisas ao mesmo tempo! Talvez seja esse o problema, dispersão.
De qualquer forma, creio que uma cabeça ativa - mesmo que turbulenta - será sempre melhor que uma adormecida, inerte, fugitiva. E ativa é meio caminho andado para produtiva. Sim, nessas horas preciso ser otimista.


DESEJO QUE DESEJES
Martha Medeiros


Eu desejo que desejes ser feliz de um modo possível e rápido, desejo que desejes uma via expressa rumo a realizações não utópicas, mas viáveis, que desejes coisas simples como um suco gelado depois de correr ou um abraço ao chegar em casa, desejo que desejes com discernimento e com alvos bem mirados.
Mas desejo também que desejes com audácia, que desejes uns sonhos descabidos e que ao sabê-los impossíveis não os leve em grande consideração, mas os mantenha acesos, livres de frustração, desejes com fantasia e atrevimento, estando alerta para as casualidades e os milagres, para o imponderável da vida, onde os desejos secretos são atendidos.
Desejo que desejes trabalhar melhor, que desejes amar com menos amarras, que desejes parar de fumar, que desejes viajar para bem longe e desejes voltar para teu canto, desejo que desejes crescer e que desejes o choro e o silêncio, através deles somos puxados pra dentro, eu desejo que desejes ter a coragem de se enxergar mais nitidamente.
Mas desejo também que desejes uma alegria incontida, que desejes mais amigos, e nem precisam ser melhores amigos, basta que sejam bons parceiros de esporte e de mesas de bar, que desejes o bar tanto quanto a igreja, mas que o desejo pelo encontro seja sincero, que desejes escutar as histórias dos outros, que desejes acreditar nelas e desacreditar também, faz parte este ir-e-vir de certezas e incertezas, que desejes não ter tantos desejos concretos, que o desejo maior seja a convivência pacífica com outros que desejam outras coisas.
Desejo que desejes alguma mudança, uma mudança que seja necessária e que ela não te pese na alma, mudanças são temidas, mas não há outro combustível para essa travessia. Desejo que desejes um ano inteiro de muitos meses bem fechados, que nada fique por fazer, e desejo, principalmente, que desejes desejar, que te permitas desejar, pois o desejo é vigoroso e gratuito, o desejo é inocente, não reprima teus pedidos ocultos, desejo que desejes vitórias, romances, diagnósticos favoráveis, mais dinheiro e sentimentos vários, mas desejo, antes de tudo, que desejes, simplesmente.

quinta-feira, outubro 14, 2004

Só o que está morto não muda

É um texto que circula há tempos pela internet, mal atribuído à Clarice Lispector (de quem é apenas a frase final, usada pelo autor no poema). Sempre me serve de inspiração...


Mude
Edson Marques

Mas comece devagar,
porque a direção é mais
importante que a velocidade.

Sente-se em outra cadeira,
no outro lado da mesa.
Mais tarde, mude de mesa.
Quando sair, procure andar pelo outro lado da rua.

Depois, mude de caminho,
ande por outras ruas, calmamente,
observando com atenção
os lugares por onde você passa.

Tome outros ônibus.
Mude por uns tempos o estilo das roupas.
Dê os seus sapatos velhos.
Procure andar descalço alguns dias.

Tire uma tarde inteira para passear livremente na praia,
ou no parque, e ouvir o canto dos passarinhos.
Veja o mundo de outras perspectivas.
Abra e feche as gavetas e portas com a mão esquerda.

Durma no outro lado da cama...
depois, procure dormir em outras camas.
Assista a outros programas de tv,
compre outros jornais...
leia outros livros,
viva outros romances.

Não faça do hábito um estilo de vida.
Ame a novidade.
Durma mais tarde.
Durma mais cedo.
Aprenda uma palavra nova por dia numa outra língua.

Corrija a postura.
Coma um pouco menos,
escolha comidas diferentes,
novos temperos, novas cores,
novas delícias.

Tente o novo todo dia.
O novo lado, o novo método,
o novo sabor, o novo jeito,
o novo prazer, o novo amor.
A nova vida.

Tente.
Busque novos amigos.
Tente novos amores.
Faça novas relações.

Almoce em outros locais,
vá a outros restaurantes,
tome outro tipo de bebida,
compre pão em outra padaria.
Almoce mais cedo,
jante mais tarde ou vice-versa.

Escolha outro mercado...
outra marca de sabonete,
outro creme dental...
tome banho em novos horários.

Use canetas de outras cores.
Vá passear em outros lugares.
Ame muito, cada vez mais,
de modos diferentes.

Troque de bolsa,
de carteira, de malas,
troque de carro,
compre novos óculos,
escreva outras poesias.

Jogue os velhos relógios,
quebre delicadamente
esses horrorosos despertadores.

Abra conta em outro banco.
Vá a outros cinemas,
outros cabeleireiros, outros teatros,
visite novos museus.

Mude.
Lembre-se de que a Vida é uma só.
E pense seriamente em arrumar um outro emprego,
uma nova ocupação,
um trabalho mais light,
mais prazeroso,
mais digno,
mais humano.

Se você não encontrar
razões para ser livre,
invente-as.
Seja criativo.

E aproveite para fazer
uma viagem despretensiosa,
longa, se possível sem destino.

Experimente coisas novas.
Troque novamente.
Mude, de novo.
Experimente outra vez.
Você certamente conhecerá coisas melhores
e coisas piores do que as já conhecidas,
mas não é isso o que importa.
O mais importante é a mudança,
o movimento, o dinamismo, a energia.
Só o que está morto não muda!

Repito por pura alegria de viver:
a salvação é pelo risco,
sem o qual a vida não vale a pena!!

quarta-feira, outubro 13, 2004

Maitena

Adoro Maitena, a cartunista argentina. Seria cartunista a melhor definição? Nem sei. Ela faz tiras para jornais e revistas (aqui, pelo que sei, pode ser lida na revista Claudia), que foram reunidas na maravilhosa série "Mulheres Alteradas". Para quem é mulher de 30 e poucos (como eu) ou de 40 e poucos (como ela), é imperdível. Para os homens também, eu acho. Os de bom humor, é claro...
O bom humor e a inteligência com que retrata nosso dia-a-dia (das casadas, descasadas, solteiras, com filhos ou sem) vão direto ao ponto. Me atingem e me fazem rir, sempre.
Tenho também um livro que reúne outra série, chamada "Superadas", publicada diariamente no La Nación.
Estava relendo (é sempre uma delícia!) e me deparei com esta pérola, dúvida do tipo "perguntas que não querem calar" que todas as mulheres se fazem (com tradução livre do espanhol):

Homem: "Não consigo entender como as mulheres tem, por exemplo, medo de baratas, aranhas e ratos e, no entanto, conseguem colocar cera quente sobre a pele..."
Mulher: "Bom, se é assim, eu não entendo como alguns homens podem tomar decisões que envolvem milhões de dólares, afetam milhares de pessoas e países inteiros... e, por outro lado, não conseguem deixar sua mulher!"

E depois ainda dizem que homens e mulheres não pensam diferente! Ah, pensam, se pensam...

quarta-feira, outubro 06, 2004

Hoje quis lembrar dessa frase

“Life is no straight and easy corridor along which we travel free and unhampered, but a maze of passages, through which we must seek our way, lost and confused, now and again checked in a blind alley.

But always, if we have faith, God will open a door for us, not perhaps one that ourselves would ever have thought of, but one that will ultimately prove good for us.”

A. J. Cronin


Coloco as coisas aqui, às vezes, e penso se devo ou não comentar... acho que frases falam por si mesmas, e a interpretação deve variar de pessoa pra pessoa, de acordo com o momento e com a forma em que são atingidas por elas.
Essa frase veio pra mim em um momento particularmente difícil da minha vida, e eu me pus a olhar pra ela todos os dias, de forma a fortalecer a minha fé. Hoje, este momento ultrapassado, ela não me parece mais uma mensagem de esperança e fé, mas apenas - como se isso pudesse ser apenas! - um descritivo do que é mesmo a vida, cheia de momentos que devemos viver e de oportunidades que não enxergamos; e de como somos (de uma certa forma) despreparados para ela, embora muitos de nós se empenhem em preparar-se e defender-se do que é indefensável. Para mim, essa é a essência de tudo - mesmo perdidos e confusos, o que importa é viver.

segunda-feira, outubro 04, 2004

Thunder only happens when it's raining

Longe de tudo, longe de você

Ele desceu do ônibus pensando nas compras do supermercado.
Ela vinha pela calçada olhando para o chão e pensando na vida.
O esbarrão inevitável aconteceu porque assim tinha que ser.

- Me desculpe! – disse ele, ajudando-a a se reequilibrar.
- Tudo bem... – disse ela, pensando “Mas que homem distraído!”

Ele pensou: “Ela é bonita!”, mas ao vê-la novamente de pé seguiu seu caminho, refazendo mentalmente a lista do supermercado.
Ela ficou parada por uns dois segundos, ajeitando a roupa. Depois voltou a andar, pensando: “Onde eu estava mesmo? Ah, é. Será que algum dia vou esbarrar no meu príncipe encantado?”

sábado, outubro 02, 2004

Hoje achei essa poesia:

Castelo de Cartas
Pedro Tostes

comecei a construir o meu
castelo de cartas
errei
e ele caiu

pus carta sobre carta novamente
veio o vento
e o derrubou

respirei fundo e comecei de novo
alguém apareceu
e o destruiu

e fiz tudo mais uma vez...

foi então que me perguntaram:
por que insiste?
não percebe que é só um
castelo de cartas
e que irá cair novamente?

eu respondi:
eu não sei...
mas algo me diz que a
beleza
está em
construir


Se eu tivesse que escrever sobre isso, não faria melhor... é esse exatamente o meu sentimento a respeito!
Não é sobre não cair, é sobre aprender a levantar. É sobre querer levantar de novo.
É sobre ter paciência, persistência e fé. Porque não importa quantas vezes o castelo vai cair: eu sei que posso levantá-lo novamente.