terça-feira, abril 19, 2005

Tudo a ver

Hoje recebi este texto e achei que tem tudo a ver!
Adoraria tê-lo escrito, mas como não fui eu, dou o crédito:
Ele é da Cristiane Adami Perozzo, que pode ser lida no http://pretensoes.zip.net/.

Bálsamo

Às vezes, você não quer uma aparelhagem nova de som e vídeo de última geração. Quer apenas que alguém lhe mande flores. Não importa se elas murcham logo – até isso acontecer, o perfume inebria, a beleza traz boas recordações, o toque de veludo conforta.
Nem sempre você quer que lhe desejem coragem, ousadia, iniciativa. É bom ouvir que, independente de qual for sua decisão, alguém lhe apoiará, desde que a escolha seja sua, e não fruto de conveniências ou de expectativas dos outros.
Às vezes, você só quer sentar no colo, sentir o calor de um abraço apertado, repousar a cabeça sobre um ombro, e chorar. Sem dar explicações ou motivos, apenas soluçando mágoas, sentindo que as lágrimas riscam seu rosto, mas que alguém as contém com um movimento de mão.
Às vezes, você só quer abrir a janela, gritar para o mundo e perder o controle, pois não é fácil – nem saudável – manter uma postura de perfeição. De vez em quando, você precisa de tempo para nada, para apoiar as pernas no sofá e ler, ouvir música, ou fingir que conversa com o teto.
Às vezes, você quer que seus pais não façam cobranças, que deixem você ser adolescente de novo, porque a vida adulta não é fácil para ninguém - e você sente que não vai suportar o peso das pressões a todo momento. Nem sempre a dor é aprendizado. Às vezes, você gostaria de ter aprendido apenas lendo nos livros, ou ouvindo a história de alguém. Sem precisar se machucar, porque as cicatrizes permanecem para sempre. E mais do que a lembrança da superação, elas são, também, a lembrança de momentos tristes, e que nem sempre curam-se por inteiro.
De vez em quando, você quer ficar sozinho, mas nunca solitário. Não quer a companhia vazia da televisão, enquanto faz o café na cozinha. Às vezes, você quer sorrir, mas não sabe como. E deseja apenas que alguém lhe ensine, sem ter que fazer anos de terapia para encontrar o próprio sorriso no seu interior.
Às vezes, você não quer usar palavras complicadas, e nem palavras óbvias – simplesmente não quer palavras. Quer apenas dizer tudo e mais um pouco com um olhar, um apelo, uma súplica.
Às vezes, você não quer ouvir mensagens de consolo, nem a piadinha de que tudo é passageiro – menos o motorista e o cobrador. Quer ficar em silêncio, ouvir a própria pulsação, sentir o coração batendo – e, de preferência, por alguém que não seja você mesmo.
Porque nem sempre você acredita naquela história de que precisa encontrar sua cara-metade – mas, às vezes, você cansa de tentar ser auto-suficiente, e quer alguém a seu lado, para dividir emoções, apoiar, e ser apoiado.
Às vezes, você é um pouco intolerante ou egoísta – e gostaria de não se culpar por isso, porque todo ser humano tem suas fraquezas. Às vezes, você quer fugir para qualquer lugar, e aí descobre que qualquer lugar é sempre aqui. Em você mesmo. E não adianta fugir, porque a fuga é um bálsamo passageiro – mas, às vezes, necessário.
Em um dia, você ganha uma aparelhagem de som e vídeo de última geração. No outro, você recebe flores.

2 comentários:

andrea augusto - angelblue83 disse...

Gostei de Bálsamo, Marisa.
Tava me sentindo assim antes de pedir demissão, sabe?
Sabia, que seria um tempo difícil e está sendo, mas ter o apoio incondicional do Edu e da minha melhor amiga foi tudo. Às vezes, vc não quer nada, apenas apoio. Apenas uma coisa que os pais, no caso, minha mãe jamais diria. Coisas como: é a melhor coisa que vc pode fazer.
Tá sendo dificil, tá, pra caramba, mas eu não me arrependi nem um minuto da minha decisão.
Enfim, é isso, no mais, foi bom receber a msg do Multiply, agora já te linkei lá no me blog e voltarei ;)

bjus querida
angel

Anônimo disse...

Caramba menina... que texto lindo.
Nem preciso dizer o quanto ele me tocou, afinal, você já sabe!!!
A cobrança dos outros para sermos sempre fortes é horrível, mas pior mesmo é a nossa própria.
Mil beijos com carinho e saudades
Marta